As fotos do altar da igreja de Nossa Senhora dos Milagres
- Flauber Barros Leira
- 25 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de mar. de 2020

Gosto muito de ver fotos antigas. Concordo com a idéia de que são janelas para um segundo no passado; com os elementos mostrados, imaginar aquele dia, aquele momento. Observar como as pessoas se vestiam e os itens que circundam a cena. Quando era pequeno, ao ver as fotos em preto e branco imaginava na minha inocência, que no passado as coisas eram preto e branco.

Há cerca de um par de anos para cá, resolvi restaurar algumas das fotos antigas de familiares que tive a oportunidade de ver. Nesse processo de restauração que fiz através do programa – Adobe Photoshop, resolvi produzir dois resultados, uma restauração que eliminava as falhas produzidas pelo envelhecimento do papel como arranhões, falhas, dobras, descoloramento ou poeira, ainda mantendo a foto em preto e branco e uma outra em que aplicava técnicas de pesquisa de cor para compor a cena o mais próximo possível de como foi vista naquele segundo, pelo retratista, com todas as suas cores.

Neste processo de colecionar e restaurar as fotos antigas, tive a oportunidade de receber algumas poucas fotos do antigo altar da paróquia de Nossa Senhora dos Milagres de São João do Cariri, terra natal de meu pai e nossos ancestrais. Fotos de Antônio Trajano de pé em frente ao altar-mor da igreja que data de 9 de setembro de 1956, gentilmente cedida pelas primas Lucia de Fátima e Verônica Trajano, duas outra fotos; uma retratando Dona Anunciada com o menino Mario Hélio e a outra com um grupo de jovens no dia de sua 1ª comunhão.
Não sabemos ao certo de quando o altar foi construído, mas ao que tudo indica a sua destruição se deu após o ano de 1965, quando o Concílio Vaticano II que ocorreu entre outubro de 1962 a dezembro de 1965, que foi um grande evento da igreja católica, em formato de uma série de conferências, aonde haviam vários temas à serem discutidos inclusive formas de tornar a igreja mais próxima da modernidade, mais inclusiva avançando a igreja para o futuro. Nesta concílio foi decidido além de outros aspectos litúrgicos, de que:
“Revejam-se o mais depressa possível, juntamente com os livros litúrgicos, conforme dispõe o art. 25, os cânones e determinações eclesiásticas atinentes ao conjunto das coisas externas que se referem ao culto, sobretudo quanto a uma construção funcional e digna dos edifícios sagrados, erecção e forma dos altares, nobreza, disposição e segurança dos sacrários, dignidade e funcionalidade do baptistério, conveniente disposição das imagens, decoração e ornamentos. Corrijam-se ou desapareçam as normas que parecem menos de acordo com a reforma da Liturgia; mantenham-se e introduzam-se as que forem julgadas aptas a promovê-la[1].” E também: “91. O altar principal deve ser preferencialmente desencostado, de forma a permitir que se ande à sua volta e a celebração de face às pessoas.”
Aí está colocado o mito, sem maiores explicações para sua implementação, ocorrendo um má interpretação, com isso ao longo do ano de 1966 começamos a ver padres arrancando altares, colocando mesas de madeira ou blocos de pedra que permitiam o sacerdote contemplar a congregação, alterando da noite pro dia o estilo arquitetônico das igrejas, fato que foi observado em varias paróquias. Houveram localidades que fosse por consciência do próprio pároco ou por pressão da população não sofreram às extremas mudanças físicas postas à execução. Como temos o exemplo do belo altar de São Sebastião da igreja de Gurjão que foi umas das que se manteve intacta pela pressão dos fiéis locais.
Ficamos na esperança de que algum dia, através de uma iniciativa privada, através de alguma campanha de restauração da memória pudéssemos ter o altar recolocado no mesmo estilo que sua glória de outrora. Por hora ficamos com as nossas janelas para o passado.
[1] Na Sacrosanctum concilium (SC) número 128.

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